terça-feira, 19 de junho de 2012

Diário de um ficcionista: Amor de van.



Passa uma van, estico o braço e a cobradora abre a porta em andamento. Parece-me a versão tropical de Lisbeth Salander, guerreira sáfica e mulata com uma crista loira, olhando sempre que pode para a estudante da PUC que vai a meu lado, cabelo tão curto como os calções, collants rasgados, ténis all star e uma tatuagem do Principezinho no ombro direito.

Na televisão da van uma reportagem anuncia: "Mulheres que matam por amor" e na telinha várias presas dão depoimentos sobre como assassinaram os amantes, as amantes, os cônjuges infiéis e os parceiros ciumentos.

Alguém disse um dia que só precisava de ver uma briga na rua para imaginar o começo de um livro.  

Olho para a Lisbeth mulata, para a garota das tatuagens literárias. Rocinha-Botafogo. Uma viagem de van apenas dava um livro. Dava uma tragédia. Começaria assim: "Em São Sebastião do Rio de Janeiro ama-se tanto como se morre de amor."

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