segunda-feira, 22 de julho de 2013

Esta é a madrugada que eu esperava




Texto publicado no blog do Prosa & Verso, do Jornal Globo.


Fujo, voluntariamente, do Rio de Janeiro. Quero sair, preciso afastar-me. Na orla de Ipanema, o mar revolta-se na janela do carro, mar de ressaca ou, como se diz em Portugal, marés-vivas. Só agora – dois anos depois de viver no Brasil e habituado a falar “mar de ressaca” – percebo que, ao longo da minha vida, disse “marés-vivas” sempre de uma forma utilitária, como quem diz “garfo” ou “pneu suplente”, sem alguma vez dar-me conta da beleza da combinação dessas palavras: “marés-vivas”, uma poesia mínima, com dois signos apenas, mas que surge na boca com o alvoroço das ondas e o poder da correnteza. Algo se renova e se movimenta se digo marés-vivas.

Estou a caminho de Paraty, ainda no início da viagem, nesse momento empolgado em que revisitamos o sobressalto das crianças com o tiro da partida. Sair para outro lugar, para longe da cidade, é uma forma de fintar a dormência dos hábitos. Quando viajamos, desemperram-se as sinapses, somos mais suscetíveis a tudo o que é novo. A velocidade e a distância da viagem permitem perspectiva, garantem-nos que há mais vida além do nosso trajeto diário casa-emprego-casa, mais histórias além das propagadas no Facebook. Viajar, escreveu Pío Baroja, é a melhor forma de curar o nacionalismo – porque se é verdade que aprendemos muito sobre os lugares aonde vamos, descobrimos mais ainda sobre o lugar de origem e sobre quem somos. Viajar cura cegueiras, inquieta dogmas e tira-nos do caminho traçado da repetição.


Para ler na íntegra clique aqui.

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