quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Manhãs da Gávea



Nasce o sol lá em Copacabana e desta rua vê-se o Redentor.

Mangas maduras caindo no meu quintal, gambás e micos nos fios elétricos. Suco de tangerina e atrizes estremunhadas, com tapetes de ioga, caminhando na calçada. Pássaros de selva, cigarras que buzinam se faz calor. Semáforos lentos, cachorros pulando na praça. Mães mulatas descendo da Rocinha para entregar os filhos na creche, mães brancas em bicicletas elétricas transportando os filhos em cadeirinhas com cinto de segurança. Senhoras iPhonicas, de boas famílias, tomando café com as amigas no Zona Sul. Velhos senhores, que gostam de bacalhau e têm sempre um antepassado português, lendo o Globo porque não há mais nada para ler.  Miúdos da escola devastando copos gigantes de açaí no intervalo das aulas. Tem flanelinhas e tem Globais, mas os vizinhos de rua ainda fazem boa conversa fiada caso se cruzem na calçada.

Com roupa de academia vai a mãe, lado a lado com a babá, trajada de branco, que empurra o carrinho onde a menina, fantasiada de bailarina, desliza velozmente os dedos num iPad. Suaves e ordeiros são estes dias de inverno com manhãs de primavera ensolarada. Estranhamente antigos como o mato que rodeia o bairro, previsivelmente contemporâneos como os gigantes cartazes de teatro na Marquês de São Vicente, as luzes do shopping, os profissionais liberais que  fazem do café da manhã tardio um estilo de vida.

Pães franceses, café com leite, frango assado e picanha no BG, bancas de fruta na esquina.

As palmeiras imperiais do Jardim Botânico. A Dona Maria do quiosque, com sotaque de Viseu, que me trata como se fosse seu neto. A rua Piratininga em flor.

E o cheiro das manhãs antigas do hemisfério norte, quando tudo era fresco, luminoso e maternal, aparece sem aviso, uma máquina do tempo levando-me para longe, fazendo-me acreditar que enquanto houver manhãs assim, poderei ser menino para sempre.


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