segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Não é só inflação, mas muita ganância



Talvez o gene da pilhagem e da conquista seja legado dos portugueses que, há séculos, entraram selva brasileira adentro, de facão em punho, para perfurar minas, garimpar rios, espalhar gripes pelas tribos de índios e escravizar africanos - aptidão que chegou aos nossos dias, de maneira mais sofisticada (dinheiros da UE), nas últimas duas décadas, em Portugal. Ou talvez seja apenas a lamentável evidência de que a maioria dos seres humanos, seja qual for a sua origem, quer sempre mais, a todo o custo, independentemente das consequências para terceiros. Talvez, talvez...

Mas se há algo que me tem entristecido no Brasil, e em particular no Rio de Janeiro, onde vivo, é a voracidade perniciosa com que tanta gente quer ganhar mais enganando o outro.

Pode ser uma conta de restaurante com vinhos que ninguém bebeu, o taxista que vai por um caminho mais longo, o flanelinha que cobra 200 reais por uma vaga de estacionamento durante a visita do Papa, o empreiteiro que, para fazer tudo mais rápido, ignora uma parede mestra e manda um prédio inteiro ao chão. Pode ser isto e aquilo, uma lista longa, diária, que nos tira energia e nos obriga a estar sempre alerta para não nos passarem a perna.

Não se trata apenas de inflação, mas de ganância e desonestidade - como os restaurantes que cobram preços de Londres e prestam serviço de terceira categoria, como os madeireiros que continuam a aniquilar a selva e os seus habitantes, como todos aqueles - governantes ou civis - que espremem a galinha dos ovos de ouro do momento, usando essa lógica facilitista do "aproveita enquanto dá", engana enquanto podes, antes para mim do que para outro.

Esta mentalidade não é apenas comum a políticos, traficantes ou donos de empresas de construção, e tem-se propagado por todo lado - dos restaurantes do Leblon às casas alugadas nas favelas.

Nem só nas manifestações devemos exigir decência, respeito e honestidade. Nem só os políticos ou os donos das empresas de ônibus são prevaricadores. Numa das maiores manifestações no Rio, vi jovens de classe média alta sair do Largo de S. Francisco, no Centro, abandonando tintas e papéis no chão, deixando sujo aquilo que antes estava limpo. Como podem querer salvar o mundo e o país se nem sequer são capazes de limpar o que sujaram?

O problema não vem de cima. Nem vem de baixo. Está em todo o lado, nessa crença de que somos sempre mais espertos do que os outros e que nos devemos aproveitar disso.

É cansativo viver assim, sempre de olho aberto e coração preocupado. Basta olhar a primeira página do jornal, apanhar um táxi, jantar fora, para perceber que há demasiada gente que só irá parar quando o país estiver exangue.





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