quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Bilhete deixado na porta do frigorífico



Para F.


Abri as janelas, mas não levei o cão à rua: chove como se fosse novembro numa cidade europeia e, com apenas 19 graus de máxima, os cariocas sentem-se ultrajados com tanto frio, sacam de cachecóis, gorros e roupinhas estilizadas para os mini-cachorros de colo. Vesti o sobretudo ao fim de quase dois anos no Brasil. Trata-se do mesmo sobretudo triste que apareceu numa crónica antiga, que escrevi sobre o verão - uma pesada peça de roupa, deixada para trás enquanto eu viajava rumo ao sul - e que te fez pensar que o prolixo e saliente rapaz talvez não fosse tão tolinho como se apresentava, ocasionalmente, diante de ti.

(Se não estou nisto para enriquecer, ao menos que suscite curiosidade na tua cabeça de ninfa romana).

Sabes agora que sou fanático da estação quente, que moro  no Rio de Janeiro - onde 19 graus no inverno equivalem a menos 20 em Chicago -, e que o meu próximo livro se chama Os caçadores do verão. Uma obsessão, esta patologia estival, é verdade. Mas não te preocupes se tenho hoje de vestir o sobretudo e enfrentar o improvável fresquinho carioca, com ventos que despenteiam e cães fechados em casa. O sobretudo, seja qual for o boletim meteorológico ou latitude, não é triste. O verão, afinal, também precisa de inverno. E não é por estar mais perto do sol que tudo acontecerá como nos filmes. É por estar perto de ti.

1 comentário:

  1. Imagina o que seria o José Mourinho sem a sua imagem de marca, o seu famoso sobretudo...não me lembro de nenhum treinador brasileiro associado a uma boa imagem, talvez seja culpa do clima!
    PS:Diz a Cisca (caso o bilhete seja dela)que o Marcelo disse que cabeça de Ninfa Romana assenta-lhe como uma luva!!Abraço.

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