quarta-feira, 28 de março de 2012

Pimp up my dream


Era um bar e isso dava-me algum conforto, uma vez que não sabia como tinha ido ali parar – as garrafas luziam atrás do balcão e a jukebox tocava Billie Holiday. O chão estava limpo embora eu soubesse – não sei como – que aquela era a hora de fecho e que muitos degenerados tinham passado por lá ao longo da noite.

Era um bar igual a tantos outros e foi isso que me descansou – o consolo de já ali ter estado, em muitas cidades diferentes. Um bar é um bar.

Ao fundo, na mesa perto das casas de banho, um homem seco como um pugilista peso-pluma demorava-se a beber, com estilo e deleite, um bourbon sem gelo. Disse:

“If it ain’t the dreamer himself.”

Resolvi aproximar-me. Era Frank Sinatra, jovem como quando fazia sucesso entre meninas adolescentes, rufia como o rapaz de Hoboken que largou a primeira mulher para dormir com uma stripper com doenças venéreas. Tentei falar inglês mas não sabia como. Disse:

“O senhor aqui?

Frank Sinatra passou a falar português. Era estranho, mais ainda porque falava com sotaque de Alfama.

“Vai buscar mais uma garrafa e senta-te aí.”

Foi isso que fiz – it’s Frank’s world, we just live in it. Estava a regressar com a garrafa quando Batman saiu da casa de banho e ordenou, com sotaque do norte: “Oube lá, ó trongamonga, traz aí um copo pró Batemã.”

Sentámo-nos os três e Sinatra disse: “Não sei como consegues mijar com essa merda”, e apontou para as partes baixas da armadura de Batman. “Nem imagino como será na intimidade, com senhoras e senhoritas.”

Bebemos a garrafa inteira enquanto as músicas iam tocando na jukebox. Eu disse:“Estamos à espera de quê?”


Sinatra respondeu: “Do super-homem.”

“Vá lá, a sério.”

Sinatra bateu palmas e, na juke box, começou a tocar a música do filme do super-homem. De seguida entraram no bar várias hospedeiras, de farda azul e cabelo loiro, que se sentaram à nossa mesa. Atrás vinha o super-homem e Sinatra segredou-me: “Não entendo aquela paneleirice de o gajo andar com cuecas vermelhas por cima de collants.”

“Eu quando era pequeno mascarei-me de super-homem”, confessei, estupidamente, e logo me arrependi.

Sinatra encheu o copo e cuspiu as palavras como se manobrasse uma navalha: “Tou fodido, isto hoje é noite para amadores.”

“Quem são elas?”, perguntei.

Super-homem respondeu enquanto acendia um Camel sem filtro: “São hospedeiras da Icelandic Air.”

“Eu vi isto num episódio dos Sopranos, havia uma cena em que o Tony estava numa suite, a fumar charuto, e havia várias hospedeiras da Icelandic Air.”

“Estavam vestidas?”, perguntou Sinatra enquanto Batman bajulava, com piropos chapa cinco, uma hospedeira parecida com a Bjork.

“É verdade”, respondeu uma voz familiar. “Eu posso validar o testemunho do rapaz”, disse Tony Soprano, no meio do bar, quando a música desapareceu. “E para lhe responder, mister Sinatra, as que se encontravam vestidas não ficaram assim muito tempo.” Todos se riram.

Perguntei: “Mas que raio se está a passar aqui.”

Fank respondeu: “It’s your fucking subconscious, kid, how the fuck should we know.”

Super-homem acrescentou: “E agora vai contar o sonho à tua terapeuta e arrotar cem pratas no final dos 50 minutos.”

Insisti: “Mas não vai rolar nada com as meninas?”

Uma delas disse: “Gostas de cordas?”

E claro que o despertador tocou no outro lado do espelho.

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