quarta-feira, 30 de maio de 2012

Manifesto pró-grama e anti-relvas


 
O relvas é bicho antigo, escorpião de Alcácer Quibir, e não há herbicida que nos valha.

O relvas é neto do dantas, carrega o gene falhado das gerações bandidas.

O relvas não marca passo, anda para trás.

Não se mate o relvas, não sujemos as mãos, que para meliantes já nos basta o séquito do relvas e ainda apanhamos uma doença ruim.

Mas dispare-se uma pistola de fulminantes, pólvora sem furo de bala, porque o relvas apodrecerá por dentro, sozinho, num lar de idosos de um banqueiro amigo do relvas.

Bang Bang, assuste-se o relvas.

Uma geração que grama com o relvas é uma geração ajaezada para o velório da decência, cavalgada pela mesquinhez, vergastada pela mediocridade.

O relvas é o Mister Burns depois da explosão da central nuclear de Springfield.

O relvas é a centopeia dentro das galochas da criança que vai para a escola.

O relvas é o carro alemão de grande cilindrada, as parcerias público/privadas e as derrapagens orçamentais.

Bang bang, pregue-se um cagaço ao relvas.

O relvas não tem obra feita e mesmo que tivesse não deixaria de ser um relvas.

Por onde o relvas passa, agonizam ervas daninhas e colapsam eucaliptos.

O relvas contradiz o aforismo que garante que o poder é afrodisíaco.

O relvas faz-nos emigrar, faz-nos desesperar, faz-nos desistir.

O relvas é mau para a tosse, dá mau nome à vizinhança, estraga qualquer festa.

Bang Bang, alguém grite, quando o relvas for almoçar ao Eleven.

O relvas deixa comichões no corpo.

O relvas distrai-nos do pôr-do-sol, dos filhos, dos amigos, é tóxico porque acumula nas raízes tudo o que está mal, é uma metáfora parola para décadas de descaso, manipulação e síndrome de porteiro de discoteca.

O relvas é igual a tantos outros relvas. Nem nisso é original.

O relvas dá mau nome à relva, estraga-nos as fantasias campestres como se fosse um empreendimento construído em zona protegida.

O relvas nem se pode fumar porque não dá onda, só dores de cabeça.

Se não joga golf, o relvas devia jogar, porque lhe assentará tão bem como uma condecoração daqui a dez anos, atribuída por um presidente amigo e compincha do partido do relvas.

O relvas é um Sócrates. Um José Sócrates.

O relvas é pernicioso porque nos obriga a escrever manifestos quando podíamos estar a pisar a grama.

O relvas faz-nos preferir a grama.

O relvas prefere a grana.

Portugal, que com todas estas urtigas conseguiu a classificação de país devedor com sintomas de depressão, mas sem guita para a terapia ou comprimidos; Portugal: país exportador de almas esgaçadas, com o rabo preso na europa e o nariz a farejar o atlântico. Portugal de relva seca, cimento armado, centros comerciais recordistas e vira o disco e toca ao mesmo, oh Portugal, ficas mais pequeno, visto de longe, com esse relvas a puxar-te as rédeas, cagando tudo no caminho. Mas um dia, um dia relvas, a grama será mais importante que a grana, e descerão a tua estátua lá na praça da aldeia onde nasceste, e Portugal voltará a ser qualquer coisa mais verde, qualquer coisa com mais esperança e gente limpa.

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