No ano passado morreram no Brasil 42 mil pessoas
em consequência de acidentes de trânsito e o país continua em primeiro lugar no
número absoluto de homicídios - foram 49,322, em 2010-, sendo que a impunidade
(outra forma de violência) se revela na baixa taxa de resolução desses crimes.
Na rádio, há uma campanha, em forma de canção, que apela para a serenidade em
caso de altercações pequenas, domésticas, de bar ou no trânsito, uma vez que
muitas das mortes violentas são o resultado, desproporcional e trágico, de pequenos
desentendimentos quotidianos.
Talvez as mortes no trânsito não assustem tanto
como o número de homicídios, uma vez que, no trânsito, todos somos prevaricadores
e vítimas. Pedestres, ciclistas, motoristas de ônibus, taxistas, puxadores de
carretas, todos parecem enfrentar o trânsito com uma lógica egotística de
salve-se quem puder, sem noção do perigo de vida que os nossos erros e infrações
podem causar, ignorando, tramando e insultando o outro, como se fizéssemos parte
de algum reality show selvagem de sobrevivência.
O Brasil é uma país gentil e um país muito violento.
Os incêndios, a pilhagem, o frisson da destruição e do confronto com a polícia, que marcam as
manifestações, são muito mais uma consequência desse Brasil violento do que
resultado dos atos de protesto. No país onde é comum ler a palavra “chacina”
nos jornais, onde os polícias andam com o fuzil fora da janela e sobrevoam favelas em helicópteros, no encalce de um traficante , disparando metralhadoras sobre casas
como se estivessem a invadir um país, os protestos de rua foram uma
oportunidade para mais uma revelação desse vírus, o mesmo que se manifesta
todos os dias no trânsito ou numa execução.
Não é uma sintoma, é a própria doença.
Não é uma sintoma, é a própria doença.
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